Artes perdidas
Perdeste a
arte da escrita enquanto te desvanecia a mente. As palavras balbuciavas tu,
entre silêncios ofegantes de um coração despido, entregue a meia dúzia de
preconceitos gélidos e ideais tenebrosos.
Perdeste a
arte da escrita enquanto te arruinavas em ruas mal iluminadas na baixa
histórica de uma cidade desconhecida, entre copos vazios e fumos coloridos, sem
qualquer riposta por parte desse teu corpo degradado pelo tempo.
Pergunto-te
por onde andas agora, de cabeça ao vento e sem rumo, extraviado pelas escolhas
que o fado te entregou e que tu não deixaste escapar. Escolhas erradas, digo
eu, que estou do outro lado das preferências, noutras escolhas que a vida te
escolheu mas que tu não abraçaste.
Perdeste a
arte. Essa arte que te levaria ao fim do Mundo, que seria o bilhete de ida para
tudo aquilo que preenchia os sonhos que te balançavam ao longo da noite. Sábia
arte essa que tu perdeste. Sábio futuro esse que te esperava. Agora segue,
nessa perda constante de artes e futuros, incorporando-te noutros que não são
teus, que roubas pela calada mas que te desvanecem pelos dedos como o pó do teu
delineamento que se deteriora. Perdeste a arte da vida.
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