Artes perdidas


Perdeste a arte da escrita enquanto te desvanecia a mente. As palavras balbuciavas tu, entre silêncios ofegantes de um coração despido, entregue a meia dúzia de preconceitos gélidos e ideais tenebrosos.
Perdeste a arte da escrita enquanto te arruinavas em ruas mal iluminadas na baixa histórica de uma cidade desconhecida, entre copos vazios e fumos coloridos, sem qualquer riposta por parte desse teu corpo degradado pelo tempo.
Pergunto-te por onde andas agora, de cabeça ao vento e sem rumo, extraviado pelas escolhas que o fado te entregou e que tu não deixaste escapar. Escolhas erradas, digo eu, que estou do outro lado das preferências, noutras escolhas que a vida te escolheu mas que tu não abraçaste.
Perdeste a arte. Essa arte que te levaria ao fim do Mundo, que seria o bilhete de ida para tudo aquilo que preenchia os sonhos que te balançavam ao longo da noite. Sábia arte essa que tu perdeste. Sábio futuro esse que te esperava. Agora segue, nessa perda constante de artes e futuros, incorporando-te noutros que não são teus, que roubas pela calada mas que te desvanecem pelos dedos como o pó do teu delineamento que se deteriora. Perdeste a arte da vida.

Comentários

Vera disse…
Já não vinha há muito, mas é certo que adoro sempre estes teus textos, e a tua escrita melhora todos os dias :)
Diogo Silva disse…
Curioso que de todos os textos que tenho lido este foi aquele que mais gostei e todos eles estão muito bons sempre...excedeste-te = ) beijinho Ângela

Mensagens populares