Não há forma de me expressar. As palavras fogem-me sempre
que as tento pronunciar, a mente bloqueia e o ar torna-se irrespirável.
Olho para ti e não sei o que vejo. Persistes num mistério
sem fim à vista, caminhando confiante de que a vida alguma coisa te deve,
talvez um novo amor ou o retorno de um antigo. Isto sou eu, a imaginar mil e um
cenários de fundo para esta peça de teatro que tento redigir e da qual és o
único protagonista.
És um misto de vidas perdidas no tempo, saltitando entre os
anos 80 e o segundo milénio. És um achado de culturas atiradas para uma caixa e
abanadas com tanta força e magia que tudo o que de lá sai são divindades. Mas até
esse lado grego eu questiono. Demando de onde vens, e nem o que fazes da vida
eu sei. Desapareces e reapareces como um rasto de fumo que se dissipa no ar,
tão rápido e sempre tão lento, perdendo-me no deleitar das imaginações que um frágil
humano como eu alcança.
Olho para ti e não sei o que vejo. A tua imagem encontra-se entorpecida
como uma sombra por trás de uma cortina, uma silhueta sem forma, deixando o
cheiro genuíno numa divisão vazia que nada me diz.
Olho para ti e não sei o que vejo. E por isso é que continuo
a olhar. Porque me entreténs com esse jogo das escondidinhas, regressando à infância
que outrora se perdeu. Esse olhar sem fundo que agora reparo e me faz
denotar uma alma corrompida. Talvez pelo que o tempo abraçou, esse maldito que
te tirou a vontade de te perderes por entre sentimentos audazes, quebrando o fio
que ligava a esperança ao teu coração perdido.
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