Idealizações


Tudo o que procuro está em ti. Tu que eu idealizo a cada dia e construo todas as noites em sonhos profundos, sem qualquer falha ou indecisão. Sei irrepreensivelmente como te quero e, se algum dia te visse na calçada a desgastar o tempo que teima em correr incerto, saberia quem és sem te contemplar duas vezes.
Quiçá até existas. Na minha ou noutra cidade, neste ou noutro mundo perdido algures, materializado em partículas que vão além da imaginação, ocupando todo o espaço que um simples Homem ocupa. O paradoxo é este: por mais carne e sangue de que possas ser feito, és imortal tal e qual como os deuses, pois, exactamente como eles, és criado em imaginação e gravado em memórias que nunca se perdem porque se não for nesta vida, encontrar-nos-emos na próxima. E nessa altura, depois de mil anos desencontrados, amar-nos-emos por todos estes tempos loucos e indefinidos, porque o amor não lateja como o coração nem dele provém, propendo sim começo em todos os quereres e desejos que a nossa alma possui.
A questão é a fatalidade. Essa desgraça com que atinge tudo o que somos enquanto o somos, não podendo ser um pouco mais. E é por isso que te escrevo, também em sonhos, enquanto traço as linhas do teu rosto e delineio esses olhos caramelizados, na perspectiva de resgatar o impossível, por que este amor, por mais puro e forte que seja, não resiste a outro amor que nos fecha o mundo nas mãos. E podendo eu só te amar uma vez, «de cada vez, cada segundo que posso, até poder outra vez», espero por ti numa outra vida, uma em que ainda não te tenha amado nem em que o tempo tenha sido desgastado, para que numa vizinha te ame novamente.

Comentários

Diogo Silva disse…
Antes de mais confesso que adorei a música =) quanto ao texto...demonstras-te qualidades que realmente aprecio porque é algo que gosto de ler. Um texto sobre uma realidade intimista mas ao mesmo tempo que envolve o imaginario. Isso é algo apreciavel. Tens outra coisa que aprecio e conheço poucas pessoas melhores e todas elas sao profissionais da escrita literaria...tens uma capacidade de caracterização simples mas incisiva, torna um texto de certa forma adorável e simples. e deve sê-lo =D parabéns portanto pelo belo trabalho e agradeço as tuas visitas regulares ao meu blogue, aprecio imenso =0)
beijinho
Ricardo Óscar disse…
Aproveita nesta, que não tens mais nenhuma.

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