L'amour

São os sorrisos e os abraços, a cumplicidade característica de um olhar terno e sincero, os poros repletos de paixão e a vontade de dois corpos se reencontrarem, todas as noites, para que o dia não deixe de ser dia nem as saudades se mantenham nas suas feições naturais. O Amor, mesmo que não o primeiro, é sempre o Amor. Talvez não tão memorável e se calhar um pouco menos encantador, mas nada implica que se torne adulterado face às leis humanas. E, de certo modo, não será crime dizer que se gosta mais ou menos, de um jeito explicado cientificamente ou descrito somente por suspiros de felicidade. Quando incutidos neste meio, no meio que mais mortes causa, tudo se torna incerto. Os planos futuristas ao nível do mundo do trabalho, a viagem prometida às antigas civilizações grega e romana, as festas todas as semanas com as amigas ou mesmo a nossa independência típica até à altura. O Amor compromete-nos a mudar de profissão, a fazer férias pelo interior do país, a trocar as saídas pelo cómodo lar e a depender de um outro coração. Quando assim é, esquecem-se os sonhos individuais para dar lugar a devaneios moldados por dois seres, provavelmente opostos entre si, distintos na fisionomia e no pensamento, não pondo de lado os gostos e os ideais que lá no fundo - por vezes demasiado no fundo - continuam a manter. Tal como existe o estado de relação e o estado de espírito, o Amor devia de ser um estado de coração, em que o sangue é bombeado com o quádruplo da força que é estudada na escola, as hormonas nos baralham a índole e a felicidade submetida a pequenas coisas afugenta os maus-olhados. Acima de qualquer alma que complete a nossa, é correcto seguir os nossos princípios, recusar factos que nos desviam de tudo aquilo que já construímos e pôr-nos em primeiro, pois se não o fizermos, ninguém o fará. E como os amantes não escapam à luta pela sobrevivência, há que ser perspicaz no que toca ao romance, ocultar uns quantos crimes e sair de fininho pela porta de trás, de cabeça levantada e olhar fixo em frente, sabendo lá quando será a nossa vez de sermos descobertos enrolados num tapete poeirento ou enterrados num deserto possuidor de um nome desconhecido, enquanto outros se riem baixinho e deitam fora a arma do crime, como que em filmes antigos. O Amor, mesmo que não o primeiro, é sempre o Amor. E o que todos têm em comum é o final trágico que a eles é atribuído. Quem sou eu para não lhe destinar o mesmo…

Comentários

Diogo Silva disse…
Pareceu-me uma boa verdade =) quem faz o mundo somos mesmo nós inclusivé 0 "nosso mundo interior". Bem deleitei-me mais uma vez a ler os teus textos também. Como sempre surpreendes com algo diferente. Obrigado e beijinho angela

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