Tempos verbais

Posso ficar o máximo de tempo à tua espera. Talvez até fique o resto da minha, da tua ou das nossas vidas. Acredito que sim – acredito que depois de um amor como o nosso, podem vir uns milhares de outros tantos, que nenhum será capaz de esconder qualquer sentimento que me fizeste sentir ou apto de apagar qualquer recordação de um momento que me fizeste viver. Saíste dos meus braços sem eu querer. E, uma vez que assim foi, dificilmente sairás da minha vida pois ficará sempre o desejo de fazer, juntos, tudo aquilo que prometemos um ao outro. Começo a compreender melhor o verdadeiro significado das promessas e só lamento que tenhas sido tu a ensiná-lo. Prometemos tudo e sobre tudo para criar ilusões e alimentar esperanças de um amanhã melhor. Acredito que não o tenhas feito enquanto davas uso a esta perspectiva, mas no fim, acabaste por usá-la. Ficaram promessas pelo ar, sonhos rasgados e deitados fora, juras imortais escondidas dentro de nós próprios para que não venham mais ao de cima. Não gosto de falar de ti no pretérito perfeito. Sempre é preferível do que empregar o imperfeito, mas continuarei a crer que voltarei a usar o presente para te retratar. A vida é uma utilização constante de tempos verbais, não achas? Cada pessoa que entra na nossa vida faz-nos conjugar uns quantos verbos, mas aqueles que partem, obrigam-nos a conjugar muitos mais. Enquanto cá estiveste, utilizei verbos como o amar, viver, divertir, sonhar. Agora que me viraste as costas e já vais longe na tua caminhada, fico pelo perder, chorar, desesperar, gritar, sofrer, e enquanto não superar a tua amarga partida, conjugarei o morrer, pouco a pouco. Quero me agarrar a ti para sempre. Sentir que pertenço a alguém tão doce como tu em vez de acabar nas mãos de alguém que não sabe falar direito, que se faz à primeira rapariga que vê na rua e ainda tem a distinta lata de a perseguir até à passadeira mais próxima a chamá-la de jeitosa porque as hormonas são mais fortes do que a pouquíssima inteligência que adquiriu em 30 ou 40 anos. Pior do que ter perdido alguém, foi ter-te perdido a ti. Tu que és homem do tempo antigo, bem-educado e sempre bem vestido, com o conhecimento de várias línguas e a sabedoria dos deuses, sempre bem-disposto mesmo quando a infelicidade lhe bate à porta, e nunca cansado o suficiente para parar de se meter comigo e ver-me quieta enquanto a vida dança à minha volta. Tudo bem, talvez um dia tenha que te deixar ir, tirar de ti o pedaço que ainda guardas em minha memória e libertar-te para que sigas em frente, se eu não o conseguir. Mas por agora não o farei. A esperança é a última a morrer e enquanto eu souber que vives a menos de trinta minutos de mim e for capaz de te imaginar a acordar nalgum dia com a síndrome do regresso, a entrar no primeiro transporte que encontrares e a acordares-me com o dedo na campainha sem o retirares, perdurarás a ser quem comanda o meu coração. E enquanto assim for, ele estará bem entregue, pois não há melhor pessoa para o guardar do que aquela com quem se viveu uma verdadeira história de amor, mesmo que tenha partido nalguma noite fria e tão cedo não volte.

Comentários

Vanessa ൪ disse…
Está tão lindo +.+
Vanessa ൪ disse…
De nada :)
é mesmo :o adoro praia .
LadyBüg disse…
:o tao bonito!

mesmo!! fiqei revoltada!
escreves tão bem :$
nem tenho palavras.
Anónimo disse…
depois de todos estes textos transpirados de sofrimento e lágrimas no teclado, é possível a qualquer um ver e entender a tristeza que vai dentro de ti. És um alguém que vê qualidades como defeitos óbvios, ofuscas-te facilmente com tanta perfeição que na realidade, para todos em redor, é apenas possível observar uma criança agarrada a uma memoria, tens de seguir em frente, mesmo que o teu coração esteja agarrado ao passado, tens de ser tu a tomar a iniciativa de destruir as raízes dos dias em que sorris-te, tens de aprender com o sofrimento, ele ensina-nos Angela.
bonito texto, escreves muito bem.
as melhoras ;)
AB disse…
Sim, o sofrimento ensina-nos e só nos torna mais fortes, fazendo parte da vida de todos. Mas não há nada para destruir. As coisas boas devem ficar sempre, nem que seja em vagas memórias, pois os momentos bons são para isto mesmo: dar incentivo à construção de um novo caminho e ajudar a levantar nalgum momento mau. E isso é algo que já anda a ser feito, mas tem sempre as suas dificuldades quando o sentimento não é falso.
Obrigada x)

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