Um brinde aos amantes

Podes sentar-te aqui ou ali, roubar uma ou duas estrelas ao céu e embalar-te com as memórias de tudo aquilo que já viveste. Ninguém vai levar a mal, ninguém se vai incomodar com o que já passou e de certo ninguém fará caso da tua voz a ecoar por entre montanhas e mares.
Eu vou-me sentar aqui e ali, vou roubar a lua do tamanho do meu polegar e embalar-me-ei nas tuas memórias. Acredita que não me vou conduzir ao mau entendimento, nem me vou incomodar com o que o tempo já roubou dessa alma trespassada nem farei caso da tua voz replicada pelo resto da natureza que nos rodeia.
De pouco vale se o céu se chateia e esconde tudo o que de lá não tirámos. De pouco importa se os mares se fecham ou se as montanhas eclodem ao teu grito. O considerável somos nós e as histórias que a História tem medo de enunciar, os gráficos matemáticos que tentam explicar o batimento cardíaco que a cada passo se distrai e a geografia que não encontra o norte deparando-se com o magnetismo terrestre em perfeita confusão.
Todavia, não há mais belo distúrbio do que aquele que os amantes provocam. Nem mais belo amor. Nem mais belo prazer do que o sentido a dois corpos ou a três para os mais audazes.
Para os amantes não existem limites, preconceitos, sonhos partidos por um «não» que lhes esmaga o coração e o arranca do peito. Nunca os beijos são suficientes, nunca as roupas são rasgadas o q.b., e uma pitada de ardor fica sempre bem no meio de tudo.
E vem o amor intenso. A paixão tresloucada que a todos rouba a compleição. A exigência. O viver por um todo mais do que o desejo por metade. As loucuras nocturnas que se prolongam pelo dia seguinte. E pelos que vêm depois.
Os amantes dizem adeus ao tempo e às diferenças se despem sem pudores. Os amantes são mais do que amantes quando se contemplam e partilham a camisola amarfanhada, a chávena de café e o último queque de chocolate. Os amantes pertencem-se mesmo que o neguem, mesmo que aos olhos de outros seja pecado e se vá parar ao inferno. Na verdade, não há melhor inferno do que o que é vivido pelos amantes. Quer-se sempre mais. Vai-se sempre mais longe.
Um brinde aos amantes.

Comentários

Diogo Silva disse…
Se há textos em que se percebe a arte e a experiência do quotidiano desta vida que absorvemos no coração e com ele, é nos teus. Como sempre uma boa, muito boa surpresa =)

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